sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

O homem que não queria ser herói - ep9

Ep 9

Chirigumi continuava deitado na cama, não conseguia distinguir nenhum objecto, para ele, tudo o que existia não eram mais que sombras.
Mas lá fora já amanhecia, e o sol já brilhava forte.
Ouvem-se passos do outro lado da porta do quarto do Chirigumi, a maçaneta da porta vai rodando devagar.
Chirigumi completamente assustado, deita uns olhares por debaixo da cama, e eis que uma sombra se atreve a entrar no quarto dele.
-Chirigumi…. (fala a sombra com voz distorcida e quase imperceptível)
Mas antes que a sombra dissesse mais alguma coisa, Chirigumi salta debaixo da cama, apanha o machado que o espelho um dia lhe havia dado e empunha-o no ar com as duas mãos.
Chirigumi estava amedrontado, nervoso, mas sabia que tinha chegado a hora de ser heróis, de enfrentar os seus medos todos, e agarrando o machado com toda a força com as suas duas mãos, inspira fundo e deixa-o cair sobre a sombra que se fende ao meio paralisa no chão. E num ápice surge outra sombra. Desta feita maior e mais cheia na frente de Chirigumi, este nem hesita. Levanta o machado ao ar e deixa-o cair sobre o novo perigo que se aproximava.
E é nesta altura com as duas sombras estendidas no chão que Chirigumi vê um raiar vermelho no chão, um corrente, um rio de sangue que se alastra até aos seus pés.
Chirigumi começa aos poucos a ver as paredes, o tecto, a janela, o guarda-fatos, tudo se afigura nítido aos seus olhos, e ao olhar para o chão observa o seu irmão e a sua mãe, fendidos ao meios, com os olhos vazios e a boca aberta num pedido de ajuda em vão. O sangue deles escorria até aos seus pés, aquele rio de sangue que ele próprio havia derramado, sangue da sua mãe e do seu irmão.
Assustado, Chirigumi dirige-se, no seu jeito a pinguim de três em três passos a cair no chão, até ao café, procurava a menina do balcão, procurava aquela linda menina loira, mas tudo o que encontrou foi um café quase vazia, com as cadeiras viradas ao contrario em cima das mesas, e apenas uma mesa com duas cadeiras. Numa das cadeiras estava sentada uma linda rapariga oriental, com cabelos longos e pretos, uma cara pálida e olhos negros, os lábios vermelho vivo cor de sangue o sangue que ele havia derramado, mas um sorriso angelical, e um vestido vermelho arrebatador.
Chirigumi desceu até ela, estatelando-se no chão ao fim das três escadas, e sem pensar em nada deu-lhe um beijo e outro e mais outro e mais outro, as suas mãos percorriam o pescoço dela, os cabelos, e sem dar por isso o vestido caía sobre o chão, o fato de Chirigumi tomava o mesmo destino. A rodarem um sobre o outro sem nunca descolar os corpos e os lábios, chegaram até ao balcão onde ele a deitou, e ele se deitou sobre ela, o início do dia, daquela dia, era feito de morte e amor.


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